sábado, 13 de dezembro de 2003

Desilusão

Helena Matos volta a levantar hoje uma questão sobre a qual eu já escrevi há algum tempo: a desilusão nacional. Foca dois eixos principais, o primeiro diz respeito ao universo cristão activo e enquadra os desiludidos com a laicização progressiva do mundo ocidental. É algo não propriamente português, mas que tem, por cá, efeitos reais em algumas elites. O segundo eixo diz respeito ao universo dos desiludidos da esquerda (face ao marxismo, face ao establishment criado nas últimas décadas, face às medianias globais, face a muita coisa, e daí também também a amargura e as indecisões que atravessam o vasto e disperso sector). É algo também não propriamente português, mas que tem, por cá, efeitos muitos maiores do que noutros países da Europa ocidental onde tais acepipes já foram há muito digeridos.
Estou em crer que o espectro central da nossa política é dominado por esta desilusão mais ou menos articulada.
A falta de fé ou de crença está a subsumir-se a esta invisível, involuntária e desiludida indigestão.
Enquanto o país sonhar tendo com base modelos abstractos doutros tempos, o mal vai continuar.
Não falta um projecto para o nosso país. Faltam vários. Mas todos eles terão de cruzar-se com a qualidade, o rigor, a iniciativa e a fuga ao desmedido peso da inércia.