quinta-feira, 20 de novembro de 2003

Aura

O blogue de Steven Johnson (Stevenberlinjohnson.com) fez um ano de vida há poucos dias. Para além de brindar com a blogosfera (parabéns, pela nossa parte!), deixou-nos este naco de reflexão:

I suspect the most rewarding part of all of this will arrive ten or twenty years from now, reading through the archives in chronological order, making all the long-forgotten connections ("That's right -- we were just moving into the Brooklyn house when I came up with the idea for that book," etc.) Writing books and articles gives you a nice snapshot of where your head was at on the scale of months or years, but the blog gives you the week by week (and sometimes day by day) account: all the little trails you followed and then abandoned, or the half-formed ideas that lay fallow for a season before blossoming into something useful. You get a record not of your final, polished thoughts, but rather your hunches and dead-ends.

Para além da retrospectividade pressentida, essa espécie de profecia invertida que parte do futuro em direcção às cinzas do presente, o mais interessante neste texto é o impacto que é atribuído às ideias fugazes e em construção, ao quotidiano em curso e sempre meio desvivido, ao fragmento imperfeito e encapelado que nos delimita o ser no dia a dia. Esse ser que é o ser dos blogues vive na razão inversa das mil correcções e depurações que são próprias da cultura do livro. Na escala do imediato fica apenas por dizer o corpo que a linguagem jamais repõe (excepção feita à mumificação egípcia). O que se diz na escala do imediato é afinal uma luz muita viva que já chegou, mas que ainda não chegou a ser. Um corpo apenas feito de aura.