Aninal de estimação
O Homem a Dias fala, e com o habitual dentinho mordaz, na conhecida patologia da "fixação no segundo plano":
É vê-los acotovelarem-se, de telemóvel em punho, na retaguarda do subchefe da GNR sempre que uma inundação ou um desastre rodoviário reclama as equipas da Sic ou da Tvi.
Esta fauna merece solidariedade e compaixão nacional, concluirá o interessante post.
Mas não se dará o caso de Portugal, no seu todo, depois de esgotada a teoria dos ciclos tão cara a essa coisa (a essa bicha da seda) chamada filosofia portuguesa - ele foi impérios, ultramares, revoluções e Europas -, se ter transformado precisamente num desses animais de estimação sempre de telemóvel em punho e aos berros?
As coisas falam por si:
ostentações felinas (leõzinhos à entrada das casas apalaçadas), estádios a dedo (o do Algarve feito para um jogo), cadeados universitários (novo tipo de tese em autocarro), políticos quebra-mesas (na épica voragem dos altos da Castilho a S. Bento), comentadores em cascata (ou o metadiscurso com sabor a procissão enfastiada), advogados irados (em estado de prolongada castração preventiva), telenovelas mil (triângulos amorosos ao sabor da dívida fiscal), dourados panteões (levantando o telemóvel no ar sobre a sombra de Harry Potter), culturas emplastradas (entre a senhora das tempestades e o senhor dos anéis), etc., etc.
E eu já nem queria falar do caso mais ou menos viral de Manuel Monteiro.