Guterres infeliz
Guterres em S. Paulo, durante a reunião da Internacional Socialista: "a esquerda" corresponde a "ideais", enquanto a direita corresponde a "interesses"; "a esquerda" corresponde aos "afectos", enquanto a direita corresponde ao "calculismo".
Penso que Guterres, ou estava influenciado pelo ambiente luliano, ou se preparava para transformar a casa das esquerdas numa manobra de exclusão desnecessária. Então... não existem ideais e afectos de direita ? Claro que sim ! Pode discordar-se desses ideais (ideológicos, ou não) ou tão-só relativá-los e polemizá-los. Mas reduzir arrogantemente parte da sociedade ao epíteto dos não-afectuosos (acerca do tema, seria útil ler o último livro de Damásio sobre Espinosa) e dos não-portadores de ideais é, no mínimo, grosseiro e infeliz.
Há na tradição das esquerdas quem ainda persista em radicalizar a imagem BD dos capitalistas de charuto e chapéu de coco com a imagem dos proletários ofendidos, humilhados e emocionados. Pior para a esquerda.
Ou não vivemos nós num mundo horizontal e global onde o diálogo entre as perspectivas inteligentes (de esquerda ou de direita) se constituiu, no fundo, como a força motriz das novas vias de compreensão dos fenómenos actuais que atravessam o planeta ?