segunda-feira, 11 de agosto de 2003

No labirinto, a passagem dá pelo nome de centro. Ser a parte menor do labirinto é participar na periferia, exprimir imagens soltas, esquivas, inarticuladas. Ser parte maior do labirinto é passar, passar, passar e não ver nada, por andar sempre à volta de si próprio. Um poema tem muitos centros e muitos andam fora do território do poema. Fundem-se esses centros, perversamente, noutros labirintos. Um poema é, pois, infiel. Por natureza. Passa por si próprio e esquece-se de si, ao mesmo tempo que convida ao rapto o melhor das suas luzes e trevas. Um poema cresce enquanto deixa de ser lido e diminui enquanto não pára de ser escrito. Verdades inquietantes. Lá por cima, a lua quase cheia a murmurar o sigilo de quem a disputa. São nuvens minúsculas que destilam a noite, no seu labirinto antigo.