Dreams
Inventar histórias, dizer qualquer coisa sem ter que o dizer. Fazer o que há a fazer sem ter que irremediavelmente fazê-lo. Redescobrir o espaço vital com que haveremos de preencher o inevitável que nos prolongará o justo delírio. Olhar em volta e vermo-nos nesse movimento sem movente. Dançar com quem se ama e esquecer a paisagem, a lua, o piano, a cortina a esvoaçar sobre os antigos tabus da idade do ouro. Tornarmo-nos no único brilho, com que nos despojamos de nós mesmos e nos entregamos, para sempre, ao querer. Aos outros. À miragem do que poderá ser a beleza. Sentirmo-nos na pele de quem sabe que a identidade é um repto, um despique, um desafio e jamais um rumor de totalidade; de completude. Discorrermos nesse filme sem montagem, ao longo do qual já nos esquecemos até do antigo medo do escuro. Descobri-lo a sorrir, se possível, e conformarmo-nos com o que está para além do que podemos ser. Todos os dias.