quarta-feira, 27 de agosto de 2003

Ainda as novidades blogosféricas

Da Cláudia Estanislau, recebi esta mensagem acerca do meu recente post, "Das novidades da blogosfera". Passo a transcrevê-lo:

Li o teu último post e acho que a dicotomia realidade/ficção no que toca á
internet sempre existirá. Eu escrevo o meu blog porque é uma forma de
desabafo, sem ter na mira ninguém especifico. Gosto de escrever, e agora
posso fazê-lo tendo um sentimento marcante que o faço com liberdade de
expressão plena. Que outros podem ler o que escrevo e criticar, quer seja
uma critica construtiva ou não. Escrever coisas pessoais poderá ser para
muitas pessoas menos ofensivo do que indagar sobre temas da política,
cultura ou da nossa sociedade onde muitas vezes impera o desentendimento. O
meu blog favorito é o NoParapeito, um blog puramente pessoal, mas que faz as
minhas delícias. No fundo os blogues dão-nos a oportunidade de navegar pelas
mentes de pessoas desconhecidas e saber o que pensam, como uma violação da
privacidade, com permissão.



Em resposta, devo dizer que creio que o mundo há uns trinta anos não suportaria
a actual democratização do privado, já que os diversíssimos alicerces do
controlo do poder se baseavam então em mundos fechados que pressupunham ditames
permanentes sobre a esfera privada (religiosa, política e sobretudo moral) e,
naturalmente, sobre a esfera pública, geralmente baseada numa máquina
muito mais estriada, violenta e rígida do que hoje (onde a opinião pública e a
cidadania são factores de liberdade e abertura). Daí que, para além de
entender um desabafo como um desabafo, ou a libertação de sentimentos
íntimos como uma simples libertação de sentimentos íntimos - o que é
intemporal -, o que eu acho é que um desabafo e a simples extroversão da intimidade
têm hoje um significado e uma escala novos face a tempos nitidamente
modernos, como os que eram vividos até há duas ou três décadas.
Basta lembrar o liceu que frequentei entre 1964 e 1971 para atestar tal facto.