quinta-feira, 17 de julho de 2003

E Zás, saiu-me o poema ao serão:



As luzes ao longe ciciavam
na memória dos muros
entre amores-perfeitos e o ressoar
dos passos com que regressavas
no fim do verão e havia chuva

lembro-me de passar folha a folha
o tempo a correr como se a sombra trouxesse
ao suor aqueles dias já mais curtos em que
falavas de bois deslumbrantes a cruzar a nora do quintal

havia silêncio ao fundo do corredor
e ciciavam luzes por sobre a maresia
enquanto olhávamos para a chuva
que nos tolhia a voz na respiração da alma

quem dera ao luar este amor
este rugido na falésia da memória

lembro-te enquanto caminho
ainda sem idade
na direcção dos plátanos despidos.