sábado, 15 de novembro de 2008

A maior comoção

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Um dia, era criança, caí no mármore. Literalmente. Como acontece em todas as iniciações. Era uma fonte esférica como o mundo e, talvez por isso, tenha percebido que o murmúrio dos deuses era - e é - um feito menor. Deuses de seda que levitavam sem andas. Era uma fonte feita de mármore e estava toda inundada de limões: espécie de nuvem silenciosa, sem densidade, mas de mármore. Compacta. Nasci no meio do mármore e nunca entendi os cemitérios como locais para a derradeira queda. Porque sempre revi nos estilhaços cor-de-rosa que percorrem a pedra a bonomia de uma paixão, cujas figuras se espreguiçariam sob as raízes de oliveiras antigas. Essas, sim, ermas, perdidas, algo deserdadas. Um dia caí dentro deste pranto esbranquiçado e em vez de encarnar, vi o mar. À beira mármore, havia um mar de limões. Do outro lado, havia a compaixão da guerra. Tem sido sempre assim. Até hoje, dia da maior comoção.