quinta-feira, 22 de maio de 2008

Estranho Maio

e
Feriado. Sento-me no pátio e leio o jornal como não fazia há muito tempo. Ritual na primeira pessoa dito em segredo neste espaço. Como era diferente o Miniscente há cerca de cinco anos, quando começou! Olho para as rosas e conto-as. São muitas dezenas, talvez mesmo centenas. Suspendem-se do passadiço, prendem-se nos arames entre varandas, escalam pelos ramos das heras, circundam o poço, abraçam o corrimão da escada em caracol, atam-se às folhas largas dos jarros, ruminam entre azulejos magrebinos e silenciam sem piedade a cor onde respiram: muito vermelhas, quase luminosas, ou, tão-só, de modo ameno, fundindo-se na cor que lhes dá o nome. Rosa, rosa puro. É assim o meu pátio: uma assunção fecunda e excessiva de roseiras amalgamadas entre a já conhecida ameixoeira e a novíssima nespereira que, em apenas um ano, nos deu uma óptima criação: sumarenta, doce e farta. A relva revolta e sem estar cortada, como deve acontecer nos recantos mais hilariantes do paraíso; a pequena laranjeira siderada, entre ramos de alecrim, como deve acontecer nas margens mais desejadas do Mediterrâneo; e o cão Ulisses, gordo e da cor do caril mais escuro, deixando voar o olhar entre esta teia prolixa de verdura e cor. Como se a Primavera, neste ano tímido, já tivesse chegado, solar, contagiosa e excessiva. Agora, bem agora... vou trabalhar.