sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Volta ao Mundo - 13

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Há quatro meses que iniciaram a volta ao mundo. Hoje, a Clara e o Miguel enviam-nos a sua mensagem da Austrália. Para trás já ficaram muitas outras terras e crónicas: Madrid, Havana, Galapagos, Quito, Buenos Aires, Ushuaia, Polinésia, Ilha da Páscoa, Nova Zelândia (com passagens por Tahiti, Moorea, Huaihine e Raiatea). Enfim, envio daqui um grande abraço e passo a publicar a 13ª epístola aos lusitanos:
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"Austrália e um lugar qualquer"
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"Olho pelo vidro do carro e a paisagem continua a passar. Não percebo como. Eu continuo parada. Passamos por um grupo de pessoas a rir, com cervejas numa mão e gestos soltos na outra. Não percebo como. Eu continuo parada. Hoje soube que morreu um amigo.
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Foi há muitos anos. E a minha alma tinha morrido. Era um nada. E dor. Tinha deixado de ser. Foi quando percebi que me pegavam ao colo, que me levavam ao ombro, que me alternavam o peso numa caminhada impossível até um estádio que, para mim, tinha deixado de ser olímpico. Desconheciam que não me levavam inteira, cada um carregava apenas um estilhaço.
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Saio do carro. Descalça. Piso a areia com força. Com força. Como se quisesse atravessar o mundo. Ouço os gritos de um grupo de adolescentes. Não percebo como. Eu continuo calada. Hoje soube que morreu um amigo. Ando até molhar os pés. Por momentos esqueço-me que estou na Austrália. Não penso em tubarões nem em experiências de vida. Não me lembro. Não ouço. Não acredito. O mar parece-me muito maior. Quase impossível.
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Foi há muitos anos. E a minha alma tinha morrido. Carregavam-me quando era apenas estilhaços. E riram-se. Não sabiam que nesse momento davam sentido ao meu reinício.
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Mergulho até não aguentar não respirar. Estou viva. E sei que a partir de hoje sou eu que carrego um estilhaço. De um amigo."
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(um exclusivo para o Miniscente)