quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Cerveja e literatura - 19

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No início do romance de Steinbeck, Um dia diferente (original: Sweet Thursday, 1954), Doc regressa ao "Laboratório Biológico do Oeste", após a guerra, e constata que o encarregado, Old Jingleballicks, nunca de facto chegou a tomar conta das instalações nos últimos dois anos. Depois de cair em si, sai de casa e é a cerveja que acaba por transformar-se em meta imediata. Digerir o inadiável. Afinal, a Doc, "todas as cervejas agradam":
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"Doc deixou-se cair na sua velha cadeira absolutamente aniquilado. Amaldiçoou Old Jingleballicks, saboreando o veneno das suas palavras, e, em seguida, levantando-se automàticamente, encaminhou-se pela rua imersa em silêncio para a loja de Li-Chong, a fim de comprar cerveja.
Só que ao ver por trás do balcão um homem bem vestido, mexicano pela aparência, ocorreu a Doc que Li-Chong tivesse partido.
- Cerveja – disse Doc. – Duas garrafas.
- Pronto – respondeu o lojista.
- O Mack está por cá?
- Sim, senhor.
- Diz-lhe que quero vê-lo.
- Digo-lhe que quer vê-lo quem?
- Diz-lhe que o Doc voltou.
- Sim, senhor Doc – respondeu o homem.
- Esta cerveja agrada-lhe?
- Todas as cervejas me agradam – respondeu Doc."
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(John Steinbeck, Uma dia diferente, tradução: João Belchior Viegas; Livraria Bertrand, Lisboa, S/d, p.13)