sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Cerveja e literatura - 15

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Estive em Cantuária (Canterbury) há oito anos. Na memória, ficou-me a imensa catedral e a espessura da cerveja. Não acrescentei a Chaucer nada do que já conhecesse, mas as bagas do lúpulo, essas, ficaram cá. E, ao ler, pela primeira vez, confesso, o romance – de nome sintomático – Cakes and Ale or The Skeleton in the Cupboard (1930 - tradução portuguesa: Destino de um homem) de Somerset Maugham, lá reapareceram as paisagens de Kent, as suas sebes, olmos e tabernas:
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"Quando uma taberna tinha um ar simpático, geralmente propunha que parássemos uns cinco minutos para tomar um copo de cerveja, e então conversava com o proprietário sobre colheitas, o preço do carvão e outras coisas do género."
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Mas o relato deste livro saboroso torna-se ainda mais apaixonante, quando o protagonista, no seu diálogo com Roy (sobre Edward Driffield), contempla a paisagem que serve de berço às próprias cervejas artesanais da região:
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"De quando em quando, passávamos diante de vivendas com pequenos jardins na frente, e nos jardins havia malva-rosas e lírios. A pouca distância da estrada avistavam-se granjas, com espaçosos celeiros e fornos para secar lúpulo, e passava-se pelo meio dos campos de lúpulo, com as bagas em maturação pendendo em grinaldas. As tabernas eram acolhedoras e aprazíveis, pouco mais importantes de aspecto do que as vivendas, e na entrada cresciam geralmente madressilvas. Tinham nomes simples e familiares: The Jolly Sailor, The Merry Ploughman, The Crown and Ancor, The Red Lion."
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(Somerset Maugham, Destino de um homem, tradução: M.E. Almeida Lima; Edição Livros do Brasil, Lisboa, 1977, pp. 129/139)