quarta-feira, 11 de julho de 2007

Quarto aniversário do Miniscente - 2

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O meu blogue, o Miniscente, faz quatro anos no próximo Domingo. Quando se é ou se aspira a trintão, quatro anos é muito tempo. Dá para fazer balanços de vida e para repensar um ciclo de projectos. Quando se é ou se aspira a quarentão, quatro anos é algum tempo. Dá para alterar o sentido das coisas e repor alguma ordem na casa. Quando o passo é o seguinte, na quinquagésima paragem, os mesmos quatro anos tanto se diluem numa imagem de vórtice, como se confrontam com a duração de uma Primeira Grande Guerra Mundial ou com o longo período de uma edição como a do ainda magnífico Le Rameau d´Or (1911-1915) de James George Frazer. Ou seja, o tempo comporta-se e debate-se, meio sonolento, pairando entre o abismo irremediável e o horizonte por resgatar.
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Mas quando o tema diz respeito a blogues, o tempo cheira subitamente a eternidade. Nada que se compare a um livro que tenha levado o dobro do tempo a escrever, o que já me aconteceu, nem nada que se compare a um desses planos faseados sob a forma de organigrama sem fim. Não, com os blogues a música é outra. De facto, o Miniscente mudou-me a vida, bem mais do que a literatura o havia feito há mais de um quarto de século. Se cada romance e se cada ensaio foram recortando a minha vida em episódios densos com princípio, meio e fim – uma espécie de descendência onírica que me foi carregando a memória –, já o Miniscente se intrometeu e inseminou no curso íntimo da minha vida, passando a calcorrear-lhe os ritmos, a mimar-lhe a respiração e, quando menos se esperaria, até a ditar-lhe as linhas e o tom das urgências diárias.
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(continua)
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Este texto é publicado em cinco partes, entre o dia 11 de Julho e o dia do quarto aniversário do Miniscente (15 de Julho).