sábado, 2 de junho de 2007

Blogues e Meteoros - 33

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(crónica publicada desde anteontem no Expresso Online)
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O Triunfo do Design - III
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Quando olhamos à nossa volta, não é raro sentirmos nos objectos, nas mensagens e no design que lhes dá corpo uma espécie de pulsação. É como se o nosso corpo andasse por aí, fora de nós, perdido entre as imagens que calcorreiam o planeta a uma velocidade estonteante. O facto tornou-se tão comum que uma simples referência, como é o caso, acaba quase sempre por misturar um fio de surpresa com a mais elementar constatação do óbvio. Esta aparente invisibilidade do design é um dos aspectos mais fascinantes do seu triunfo no nosso dia a dia.
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Nos últimos trinta anos muita coisa aconteceu para que tivéssemos chegado a esta troca de pulsações entre os objectos que nos vestem, transportam ou acomodam e nós próprios. Dou dois exemplos. O primeiro, já um clássico, deu pelo nome de “Lateral Thinking” (E. de Bono, 1970) e baseou-se na oposição entre a arrumação “vertical” da mente (sistema de “construção de padrões”) e as mensagens cujos formatos a conseguissem pôr em causa. As imagens “Benetton” dos anos noventa — hoje vulgarizadíssimas — constituíram um bom exemplo deste tipo de desmontagem, na medida em que obrigavam a suspender a padronização habitual da mente.
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O segundo exemplo tem apenas dois anos e apareceu por via das ideias de Lindstrom (“Brand Sense”, 2005) que estão agora a invadir o mercado sob o signo dos designs sensoriais: “saborear”, “cheirar”, “tactear”, para além dos mais clássicos “ouvir” e “ver” (Damásio acrescentar-lhes-ia certamente a variante “somatossensorial”). Estas duas formas visuais de atenção realçam, de modos diversos, a característica mais emblemática do design actual: fazer do presente um território realizável e crível que incorpore as nossas emoções e não um “mero trânsito”, como pretendiam os místicos medievais ou os ideólogos oitocentistas.
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Os designs contemporâneos estão, pois, a estimular a migração dos nossos processos mentais e sensoriais, transformando o espaço público num complexo orgânico onde a nossa carne, as nossas pulsões e impulsos se revêem como se agissem no seu espaço mais íntimo.
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Abruptamente, saltámos todos para cima do palco da tragédia grega. A grande catarse já lá vai e agora habituámo-nos a ser heróis ou vilões, tanto faz, que se entregam a um único desígnio: o desejo. É como se o riso, o choro, a livre associação de ideias, os pequenos prazeres ou a comoção que é própria dos grandes acontecimentos se libertassem das suas âncoras mais habituais para vaguearem, entre nós e nós próprios, de modo espontâneo. Este novo complexo orgânico — mais do que Big Brother, um verdadeiro Big Body especular e espectacular —, estando fora de nós, está também dentro de nós e sorri-nos diariamente nas ruas, nos outdoors, nos objectos domésticos, na televisão, na arte pública, na moda, nos blogues, nos desportos, na comunicação política ou nos hipermercados.
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Através do sortilégio do design, a cidade global é cada vez mais preenchida pelo espelho confortado do nosso corpo e por uma nova confidência que se está a reencontrar consigo mesma. A satisfação, o usufruto e a paixão estão a fixar-se na cultura material que nos envolve como um segundo ar, tão sintético quanto espiritual.
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Há uma nova ergonomia que nos está, a pouco e pouco, a levar o corpo (e as pulsações) para fora de si. Há uma nova encarnação que está a dar-nos de volta, no quotidiano mais insuspeito, o corpo, a alma e o pathos. Há um novo e deus em cena a escrever direito por linhas muito subtis.