quarta-feira, 18 de abril de 2007

Massacre de Virginia Tech (actualizado)

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O YouTube permite ver imagens que se antecipam às captadas pelos media tradicionais, ao filtro da edição e sobretudo às consequências dos factos filmados. Há no YouTube um novo tempo, o tempo da iminência, que nada tem já que ver com o tempo da notícia, nem com o tempo da meta-ocorrência (i.e., os factos reais transformados, num dado período, em efabulação ficcional e contagiosa - veja-se o caso Sócrates, o caso Casa Pia, o caso gripe das aves, etc...). As imagens do massacre de Virginia Tech (ver aqui) denotam esse lado abismado e terrível. Há nesta nova iminência (que se actualiza para além do tempo em que se processou o acontecimento) um pasmo inenarrável, porventura semelhante ao que outros media terão causado no momento em que abruptamente surgiram (a fotografia e o cinematógrafo face aos seus primeiros espectadores). A grande diferença é que, hoje em dia, deixámos de ter tempo para nos prepararmos para a actualidade. A interpretação quase deixou de ser uma aprendizagem: entre as imagens e o pasmo e, por sua vez, entre o pasmo e as imagens passou a existir uma distância ínfima. Uma película imperceptível. Ou seja, quando as imagens nos invadem, inevitavelmente já desencadeiam pasmo e quando o pasmo nos povoa - como se fosse um alívio - apenas só já desejamos entregar o corpo e a imaginação ao fluxo das imagens. É este o novo pas de deux que o tempo da iminência apenas está a dilatar.
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O mais intrigante deste caso é que o próprio Cho Seung-Hui, entre os vários disparos que levou a cabo em Virgina Tech, gravou uma mensagem que depois - às 9.01 locais - acabaria por enviar para a NBC. É o tempo da iminência, aqui enunciado pelo terrorista e não apenas por câmaras testemunhadoras e ocasionais, a tentar intrometer-se de modo decidido na construção da realidade (leia-se: na construção deste pacto excessivo e cada vez mais irredutível que associa pasmo e imagem).