sábado, 14 de abril de 2007

"Código de Conduta"?

e
Não. No seu “Radar”, O´Reilly dá apenas conta de um simples “brain storming”, um “work in progress” que na blogosfera lusa se pratica intuitivamente e cujas rotinas já foram motivo de abordagem (lembro-me do meu “Tom dos Blogues” e, por exemplo, das “Regras” do Abrupto). Deixo aqui as sete regras que estão agora em causa – numa espécie de regime laboratorial – e reatarei o tema, na minha próxima crónica do Expresso online (Quinta-feira), relacionando a dramatização que está em curso com o caso que lhe deu origem ("Kathy Sierra"), com o famoso “código de pudor” de Will H. Hays e com as interessantes salvaguardas que têm sido apanágio do mais falado dos blogues portugueses desta Primavera: Do Portugal Profundo. Eis as regras, em regime de quase hipertexto:
e
1 - “Take responsibility not just for your own words, but for the comments you allow on your blog” i.e., responsabilização do blogger pelas suas próprias palavras, mas também pelas que permite em comentário.
2 - “Label your tolerance level for abusive comments
i.e., anunciar previamente o aqui designado “nível de tolerância” do blogue aos autores de comentários abusivos, tal como acontece, por exemplo, com os ícones do Creative Commons utilizados em muitos sites com o intuito de preservar os direitos aos seus conteúdos.
3 - “Consider eliminating anonymous commentsi.e., ponderando alguns contextos em que o anonimato tem sentido (em situações repressivas diversas, por exemplo), impõe-se nas caixas de comentários um registo mínimo dos chamados signos de identidade, nomeadamente – é discutível a sua eficácia e o seu grau de simulação – a apresentação de um mail.
4 - “Ignore the trollsi.e., O´Reilly propõe uma atitude de indiferença (a possível…) do blogger para com os agentes do cibervandalismo. O exemplo dado, neste caso, pelo autor – o quotidiano dos “artistas” versus conteúdos dos media cor-de-rosa – não me parece muito feliz, na medida em que ambos os discursos acabam (muitas vezes) por se alimentar um ao outro.
5 - “Take the conversation offline, and talk directly, or find an intermediary who can do soi.e., um directo apelo às mediações entre interlocutores de contendas, quando estas parecem não ter saída. Por outras palavras: evitar a “escalada” que tem como leitmotiv o desejo de que querer impor uma inevitável “última palavra”.
6 - “If you know someone who is behaving badly, tell them so i.e., a ameaça torna-se, no projecto de O´Reilly, em fiel da balança: se o nível considerado for de ofensa, o blogger deve comunicar com o “perpetrator” visando sobretudo dissuadi-lo; se se tratar de ameaça real, há que passar para um outro nível e cooperar activamente com a polícia.
7 - “Don't say anything online that you wouldn't say in person
i.e., tentar aproximar os registos que se fariam na atmosfera com os que se praticam na blogosfera, sabendo-se, no entanto, que os escrutínios são muito diferentes em ambos os meios. Ou seja: bastante apertados socialmente no primeiro, muitíssimo mais fluidos no segundo.
e
É caso para concluir: entre o óbvio, a aparente ingenuidade e o fio do abismo, há sempre um número considerável de caminhos por percorrer.
A dramatização precoce, por seu lado, torna-se geralmente numa esfinge imóvel e inerte que não augura caminhos nenhuns.
Uma sociedade de imagens é propícia à propagação de clichés, daí a dimensão da esfinge que atravessa - aí sim, dramaticamente - uma boa parte da blogosfera.