quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Comemorem-se 43 meses de Miniscente

UM DRAMA BREVÍSSIMO DEDICADO AOS MEUS LEITORES
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Os dois actores estão agarrados a ramos afastados da mesma ameixoeira.
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“Um homem livre de perigo, isento de riscos ou ostensivamente afastado da falésia nunca se salva.”
“E por que teria ele que se salvar?”
“Quem se fecha numa redoma… o que é que espera?”
“Se calhar, pode apenas ser alérgico à confusão.”
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Os mesmos dois actores correm agora em direcção ao mar e falam ao mesmo tempo.
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“Mas por que se salvaria alguém, independentemente do perigo, dos riscos, da falésia, ou da redoma?”
“Não sei. Por exemplo, no caso do futebol, a salvação é a bola no fundo das redes."
“Sim.”
“Ora o homem que não corre riscos não quer saber nem de redes, nem de bola e muito menos de futebol.”
“É verdade.”
“Por que salvaria ele, então?”
“E por que teria ele que se salvar?"
"Mas não estás a perguntar precisamente o mesmo que eu?"
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Os dois actores andam há dias sobre o gelo da Antártida.
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"Achas que esse homem, o tal que não tinha nada que se salvar, podia estar agora aqui connosco?"
"Sempre pensei que tu e ele fossem a mesma pessoa".
"E porquê?"
"Porque foste tu quem falou em salvação."
"E achas que eu me pendurava em árvores, me metia no mar em pleno Inverno e fazia milhares de quilómetros sobre o gelo só... por causa da salvação?"
"E por que tens tu que te pendurar em árvores, mergulhar no mar ou andar sobre o gelo?"