segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Do comboio ao TGV

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A liberdade não é uma coisa dada; é antes uma disposição individual e um entendimento geral que se poderão rever um ao outro no mútuo usufruto dos actos do quotidiano. A literatura é um desses actos, como qualquer outro. Pelo meu lado, nunca sacralizei a actividade, nem tão-pouco a entendi como particularmente “libertadora” no sentido de poder estar ao serviço de “causas”. É aí que ela, precisamente, deixa de ser usufruto para passar a não ser livre. Para passar a ser narrativa enclausurada em narrativa. Grande parte da história da literatura, do século XVIII para cá, foi feita nesta ou a partir desta clausura. E sem que ninguém sublinhasse o facto, ou pelo menos a importância que ela releva.
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Hoje em dia, as meta-ocorrências geradas pelos media são o produto que mais ficcionalidade cria em todo o mundo. A literatura, tal como a aprendemos a entender nos últimos dois séculos e pouco, perdeu esse magnífico comboio. Mas ganhou muitas outras coisas.