terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Mini-entrevistas/Série II – 78


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O Miniscente tem estado a publicar uma série de entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados. Hoje a convidada é Isabela, 43 anos, animadora sociocultural (http://omundoperfeito.blogspot.com/).
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- O que é que lhe diz a palavra "blogosfera"?
A palavra esfera agrada-me pelas conotações mágicas associadas ao poder, mas, também, à união; aglutinada com blog, portanto, blogosfera, leva-me imaginar um aglomerado de estrelas em formação, que emitem luz, mas também a recebem, e, visto assim, a coisa até parece séria, bastante poderosa. Mas isto sou eu a delirar!
- Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Seria remeter os blogues para um espaço meramente informativo-opinativo. Seguir acontecimentes importantes apenas através de blogues é difícil. Os meios são complementares.
O espaço de escrita blogosférico é muito de opinião e reflexão, mas precisamos dos jornais, pelo menos. Há uma grande interacção, a meu ver, bastante saudável, entre blogues e Imprensa. Pessoalmente, procuro os jornais para uma leitura factual, mas não só. São-me essenciais. Preciso da notícia crua para depois pensar, criar sobre ela. Aliás, os bloguistas são minuciosos leitores diários. Há blogues que vivem de ideias e situações intemporais, e, portanto, isto não se lhes aplica. A blogosfera mantém o seu feudo diarístico muito importante. Pessoalmente, o que me interessa seguir através dos blogues é a vida na sua inteireza, sem filtros de redacção, bem como as pessoas que a vivem, que a fazem, e a escrevem, muitas vezes, muito bem.
- Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Os meus blogues obrigam-me a escrever. Não é um verbo usado levianamente. Obrigam-me, de facto, e escrevo que me desunho. E quanto mais se escreve, mais se quer escrever. Sei que os leitores esperam texto, e quero dar-lho. Quero que se divirtam, e que pensem, se maravilhem, riam comigo, e até de mim. Por esse motivo, desenvolvi uma pulsão para a escrita sobre situações do mundo, e, posteriormente, sobre conceitos, ideologias, e respectivo questionamento, como nunca tive antes, embora sempre tenha escrito.
O meu olhar selecciona o que é elegível de atenção muito em função da utilidade que isso terá em termos de escrita, ou de escrita de blogue. Como produzo muito texto, e o texto me dá trabalho, porque depois não suporto construções que travem a fluidez da minha própria leitura, dou comigo muitas horas frente ao computador; logo, tenho menos tempo para outras actividades que, muitas vezes, descuro. Vejo menos televisão, leio menos, vou menos ao cinema. Os olhos estão uma desgraça, e permanecersentada muito tempo não é saudável, no meu caso. Os visitantes dos meus blogues, e as minhas visitas a blogues alheios, levaram-me a conhecer muita gente, alargando a minha teia de relações de uma forma que não acontecia desde a existência do DN Jovem. Encontro-me com essas pessoas, comunico com elas por mail, chat ou telefone. Foi possível criar, pois, uma outra rede, humana, social, fora da web. Isso tornou-me uma pessoa mais sociável. Acho eu. Se calhar, apenas mais "relacionável".
- Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Enquanto editora dos meus blogues considero que sou absolutamente livre para bordar os assuntos que me interessam ou que considero oportunos. Sinto-me vigiada pelos leitores, mas isso é outra coisa. Sei exactamente quando um texto vai gerar desagrados, porque vai contra a corrente, ou porque é radical demais, ou superficial, mas também aprendi a defender-me das críticas. E, muitas vezes, concordo com elas. Tenho alguns princípios de que não abdico, como qualquer pessoa, mas dou comigo a dar a mão àpalmatória bastas vezes. Quanto aos meus leitores, muito sinceramente, não posso dizer que sejam totalmente livres, sobretudo os que consideram que a liberdade é abastardamento. No início, era muito ingénua relativamente ao que deixavam nas caixas de comentários, e autorizava tudo. Hoje em dia, ajo como o director de qualquer jornal: malucos e reaccionários, que exerçam as respectivas liberdades de expressão nos seus próprios blogues; quem visita as minhas casas não larga nelas o seu lixo. Igualmente, quando me parece que as usam como via para a divulgação de campanhas ou opiniões nada condizentes com a minha ética, corto-lhes o pio. Sem dó nem piedade.
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Entrevistas anteriores: Série I - Carlos Zorrinho, Jorge Reis-Sá, Nuno Magalhães, José Luís Peixoto, Carlos Pinto Coelho, José Quintela, Reginaldo de Almeida, Filipa Abecassis, Pedro Baganha, Hans van Wetering, Milton Ribeiro, José Alexandre Ramos, Paulo Tunhas, António Nunes Pereira, Fernando Negrão, Emanuel Vitorino, António M. Ferro, Francisco Curate, Ivone Ferreira, Luís Graça, Manuel Pedro Ferreira, Maria Augusta Babo, Luís Carloto Marques, Eduardo Côrte-real, Lúcia Encarnação, Paulo José Miranda, João Nasi Pereira, Susana Silva Leite, Isabel Rodrigues, Carlos Vilarinho, Cris Passinato, Fernanda Barrocas, Helena Roque, Maria Gabriela Rocha, Onésimo Almeida, Patrícia Gomes da Silva, José Carlos Abrantes, Paulo Pandjiarjian, Marcelo Bonvicino, Maria João Baltazar, Jorge Palinhos, Susana Santos, Miguel Martins, Manuel Pinto e Jorge Mangas Peña. Série II – Eduardo Pitta, Paulo Querido, Carlos Leone, Paulo Gorjão, Bruno Alves, José Bragança de Miranda, João Pereira Coutinho, José Pimentel Teixeira, Rititi, Rui Semblano, Altino Torres, José Pedro Pereira, Bruno Sena Martins, Paulo Pinto Mascarenhas, Tiago Barbosa Ribeiro, Ana Cláudia Vicente, Daniel Oliveira, Leandro Gejfinbein, Isabel Goulão, Lutz Bruckelmann, Jorge Melícias, Carlos Albino, Rodrigo Adão da Fonseca, Tiago Mendes, Nuno Miguel Guedes, Miguel Vale de Almeida, Pedro Magalhães, Eduardo Nogueira Pinto, Teresa Castro (Tati) e Rogério Santos. Agenda desta semana (de segunda-feira, dia 11/12, ao sábado, dia 16/12): Lauro António, Isabela, Luis Mourão, bloggers do Escola de Lavores, Bernardo Pires de Lima e Pedro Fonseca.