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Vivianne parecia um berlinde deslumbrante que dificilmente cabia nas ruas mais estreitas do Dorsoduro ou do Cannaregio venezianos. Mas tinha a delizadeza de uma serpentina e a voz do soprano que, após um êxito vibrante em palco, saberia esperar pelo campeão de boxe no Grande Hotel de Rimini. Era mulher de dezassete fôlegos e não escondia o imediatismo lânguido da sedução, o gosto pela carne e a tentação do inimaginável (como seria fazer amor com aquela mulher, cuja admirável atracção devia povoar os sonhos de Euterpe? Seria como fazer o pino num trapézio sobre dunas? Seria como a vertigem na grande roda do Luna Park, entre a poeira e as cores infantis de Méliès? Seria como o grande arbusto de sândalo do Hawai a que a hera lançaria os seus ramos insidiosos, húmidos e de um vermelho de crista de galo?).