segunda-feira, 5 de junho de 2006

O "tom" dos blogues - 25

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A procura expressiva dos blogues faz-se não apenas através do modo variado como a linguagem se vai adaptando ao novo meio, tarefa maior e diária dos bloggers, mas também através do modo como o mercado interpreta a força da blogosfera, accionando, ele também, instruções claras aos investidores, aos publicitários, aos marketeers e às empresas. Um caso paradigmático surgiu em Abril passado num artigo de Derek Gehl, Harness the Marketing Power of Blogs, no site da MSNBC.
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O artigo começa por explicar ao seu público-alvo o que é um blogue (“I'm sure you've heard about one of the biggest things to hit the web in the last few years: blogging.”). O destaque desta primeira apresentação incide no imediatismo da edição (“you just log in, type what happened today, post it, and you're done!"), na eficácia do dialogismo (“you can add a simple little feature that automatically tells a whole bunch of other websites that you've made an update to your blog”) e sobretudo nas potencialidades que a blogosfera está a abrir ao mundo dos negócios (“a very powerful marketing tool for your business”). Vai mesmo um pouco mais longe, neste último aspecto, ao referir que existem pessoas que já fazem do blogging um modo de vida (“some people actually earn an income just from blogging alone.”).
Num segundo momento, depois de referir a importância estratégica do novo meio (“blogging is fast becoming an extremely important strategy for any online marketer”), o autor sistematiza, entre outras, três grandes capacidades que um blog potencia: aumentar o tráfico do site principal (“drive swarms of traffic to your main website”), aumentar as vendas (“generate more product Sales”) e aumentar a rentabilização publicitária (“create an additional stream of advertising income”). Antes de avançar para uma espécie de gramática do ‘blogging business’, que aliás domina o artigo, o autor salienta ainda três características interessantes que se situam na área do “tom” dos blogues (i.e., naqueles atributos que permitem desvendar a sua optimização expressiva). Em primeiro lugar, o seu estilo “informal”, “coloquial” e a proximidade quase chã da interacção. Em segundo lugar, a variedade potencial dos blogues: podem ser “informativos”, “opinativos”, “chatty”, cativam o público pelo seu “human aspect” e têm amiúde um tendência real para o “humor” (“humorous”). Em terceiro lugar, é colocada em evidência a “fácil” acessibilidade a todo o tipo de público e iniciativa, a gratuitidade, a simplicidade de uso e a eficácia do meio (“with all the new tools and resources that have been created specifically for blogs”).
O artigo conclui deste modo a introdução e passa, depois, a enunciar as regras que possibilitam a rentabilização da blogosfera nos negócios e que visam a conduta a seguir para que um blogger se torne num blogger de sucesso.
Comecemos pelo primeiro dos aspectos, ou seja: de como tirar partido na área de negócio através dos poderosos recursos da blogosfera (“the extremely powerful ways your business can benefit from a blog”). Derek Gehl descreve aqui sete pontos, revelando, em todos e em cada um deles, uma relação íntima com as potencialidades expressivas da blogosfera:
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1 - Humanizar o seu negócio (“Humanize your business”).
Neste ponto, estabelece-se o contraste entre o cariz informal e pessoalizado dos blogues e o formalismo algo passivo dos “websites” normais. Trata-se de uma clara vantagem por parte dos blogues, na medida em que permitem a utilização da própria voz (“you can write posts in your own voice”), dando ao negócio um “rosto” mais próximo junto dos “prospective customers”. Esta ilação expressiva é interessante, já que valoriza o teor da enunciação como puro acto de ilocução (de compromisso): “It also allows you to inject much more of your own personality into your online business than your main sales site could do”.
2 - Melhorar o serviço de clientes (“Improve your customer service”).
Neste ponto, apela-se às modalidades interactivas (“Your blog can act as a kind of interactive FAQ”) que permitem um contacto imediato e permanente entre os agentes do mercado. Uma tal sobreposição entre emissão e destinatários facilita todo o leque de actualizações relativas a campanhas, a produtos, a artigos, etc. (“product updates, how-to articles, and other information of relevance”).
3 - Dar ao seu público-alvo a informação que ele procura (“Give your target market the information they're looking for”).
Este ponto merece um realce à parte: “With its automatic archiving feature--by date and category--a blog is a fantastic content-management system”. Tendo em vista a eficácia do sistema, apenas se requer uma ininterrupta – e “bem escrita” - actualização de dados por forma a fidelizar “your best potential customers”.
4 - Intensificar o tráfico no seu site de vendas (“Drive traffic to your sales website”).
O dispositivo suscitado neste ponto remete essencialmente para o uso de palavras-chave e de links adequados tendo em vista o aumento de visibilidade no processamento de busca na net (“use strategic keywords and links to specific sales pages to dramatically improve the search engine rankings of both your blog and your main website”).
5 - Aumentar a credibilidade (“Build your credibility and establish yourself as an industry expert”).
Neste ponto, insiste-se na necessidade de processar uma informação regular e ponderada. Esse processo comunicacional, insistente e consistente “valuable”, pode vir a criar no público a ideia de uma especialização, o que acabará por traduzir-se num óbvio aumento de confiança (“It's a great way to establish yourself as an expert in your subject area, and allow your visitors to feel much more comfortable buying from you”). A chamada simulação subtil.
6 – Promover produtos ou serviços (“Promote your products or services”).
Este ponto é meramente referencial e apela à venda directa no blogue ou à remissão para o website apropriado.
7 - Gerar novos rendimentos (“Generate extra income”).
Este ponto relembra a existência de novos programas publicitários (“advertising programs”), nomeadamente o “Google AdSense”, adquados ao novo meio blogosférico.
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O segundo aspecto desta gramática do ‘blogging business’ – “What does it take to become a really successful blogger?” – é condensado por Derek Gehl em apenas três aspectos muito sumários:
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1 - Um bom contéudo (“Great content”):
Neste ponto salienta-se o óbvio: há que adequar o conteúdo ao público-alvo (“If your content isn't interesting and relevant to your target market, your blog won't work. It's as simple as that”).
2 - Actualização regular (“Regular updating”).
Primeiro a condescendância: – “I won't lie to you: there are some days when I really find it hard to find the time to post a new article” - , depois a advertência: “But if I don't post, no one will come back”. Mais um ponto claro como a água.
3 - A singularidade da sua voz voz (“Your own distinct voice”).
Este é o mais importante destes três pontos no que respeita à procura expressiva da blogosfera. A individualização e a modelação específica de uma voz - ou de um estilo - são vistas como parte privilegiada e integrante do novo meio. É, ao fim e ao cabo, a maleabilidade que assegura na blogosfera a imensa fertilidade (“a blog it´s a place where ideas can flourish and topics of current interest can be debated”). Mais: não é necessário ser-se um escritor dotado para encontrar na blogosfera o esteio funcional que religue adequadamente oferta e procura (“You don't even need to be a brilliant writer; you just need to be able to relate to your audience and give them good content”).
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No final (“Final Thoughts”), Derek Gehl alude ainda à necessidade de pensar um blogue estrategicamente, quando a sua utilização se fizer no campo dos negócios. Pode fazer-se um blogue em cinco minutos, mas “it takes time and dedication to develop a blog that keeps your audience coming back for more”.
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A flexibilidade, a eficácia e a extrema personalização são neste artigo interpretadas, menos como virtudes a desenvolver por futuros utilizadores e mais como características potenciais da expressão blogosférica. As capacidades e competências que o novo meio disponibiliza são apresentadas com a nítida preocupação de demonstrar que os agentes presentes no mercado se poderão muito facilmente adequar (i.e., recorrendo a uma gramática mínima) a esta geometria específica da rede
Um destaque particular é dado, em mais do que um momento do artigo, à lógica de proximidade que a blogosfera está a colocar em cena. É de facto particularmente interessante, neste ambiente de marketeers e publicitários, o recurso à metáfora da voz (“you can write posts in your own voice”) como modo de aproximar os agentes que se movem no mercado. Uma segunda metáfora, a da “humanização” do negócio, sugere a criação de um novo localismo que parece estar a emergir na arena global, embora com “vozes” que podem perfeitamente rasgar o horizonte mundializado em que vivemos.
Este novo tipo de maleabilidade e proximidade acaba ainda por renovar o próprio conceito de ‘marca’, na medida em o ‘core’ e o ‘património’ – um e outro tradicionalmente associados ao próprio conceito de marca -, parecem agora estar a ser completados pela tal “voz” que se ouve em tempo quase real entre vendedores e compradores (e que narra, ou segreda, em directo, os ‘topic’ em questão).
De uma vez por todas, a mobilidade dos mercados está a descobrir a versatilidade da flutuação expressiva da blogosfera. Artigos como o de Derek Gehl abundam, aliás, na internet. O alcance do “tom” dos blogues está, pois, muito longe das práticas e dos rituais que se vão tipificando regularmente entre as mais diversas micro-comunidades de bloggers.
A blogosfera começa a ter mundo.