quarta-feira, 17 de maio de 2006

Tonalidades & casos - 11

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“Com todos/ Ontem, uma pessoa conhecida mandou-me um convite para mais um daqueles sites de amigos e conhecidos que permite que estejamos todos em rede. Aceitei o convite, preenchi os dados pedidos e, sem dar conta disso, mandei um convite semelhante a todos os endereços da minha caixa de correio, incluindo pessoas que mal conheço, de quem não sei há anos ou com quem me zanguei. Vamos ver se esse lapso não é interpretado como uma intenção.”
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Um meio tradicional - um jornal - tem sempre uma secção destinada a correcções (por exemplo, “O público enganou-se”). Nos blogues, a prática é desnecessária já que o pragmatismo da rede sempre fez claramente sobrepor o sentido à verdade (ver post sobre o tema). A veracidade torna-se, por isso, de vez, num assunto para a deontologia jornalística ou para as axiologias científicas sempre mediadas pelo inquérito e pela dúvida. Na particularidade da blogosfera, este tipo expressivo confina como nenhum outro com a coloquialidade e é por isso mesmo que, nestes casos, a imagem dos velhos botequins do final de setecentos parece ressuscitar. No post do Pedro – a bordo de um blogue minimalista e económico (ao contrário do Dicionário do Diabo) -, o confessionalismo abre portas à brevidade cinematográfica do gesto, à cristalina exposição do embaraço e até à simulação do sorriso. Parece que estamos agora mesmo a ouvir e a ver os interlocutores sob a arcada a discorrerem acerca da natureza dos lapsos e das "intenções" (em vivo itálico). Sobre a mesa, uma mão cheia de boicoli e golosessi. Uma pianola, dois violinos e a tonalidade das zattere um pouco mais ao longe.