terça-feira, 11 de outubro de 2005

O recato
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Harry Gruyaert
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Lembro os altos fornos de IJmuijden na noite avermelhada e densa. Gaivotas funestas e flores consumidas pelo pão que tinha a forma de âncora. Na parte da frente da embarcação, velejava a escultura de uma mulher com garfo tridentino entre braços, seria uma bruxa do tártaro e, ao mesmo tempo, a simples e desalinhada volúpia do Mar do Norte. Lembro Les enfants du paradis de Carné e os mercados perdidos na ventania da imensa rua de barracas de mexilhão, picantes do Suriname e queijo jong belegen de Gouda. As nuvens rejuvenescidas, o horizonte incerto, o mar picado, a palavra enternecida ou quebrada.