A memória da memória
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Jean Gaumy
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A memória começou por ser invisível e mitológica para depois incorporar nessa ficcionalidade acumulada um tom épico e historiográfico. Reinava esta grande crónica do mundo, quando as próteses modernas entraram em acção: de um lado, a ideia científica de história (a partir de meados de setecentos, por exemplo, com Vico) e, do outro, os primeiros museus, os arquivos e sobretudo o artefacto fotográfico. A domesticação do passado, ao sabor de arbitrariedades várias, acabaria por transformar as mais diversas próteses na represenção de mundos “objectivos” ao longo de oitocentos e de novecentos. A novidade da rede consiste, hoje em dia - e entre muitas outras coisas -, na relativa desapropriação dos dados (dos factos passados) e na possibilidade da sua permanente e instantânea actualização (melhor: da sua virtualização). O que quer dizer que vivemos num mundo cada vez mais bipartido: por um lado, mergulhado numa espécie de amnésia colectiva (por via da deificação da actualidade, do agora-aqui e da insaciada devoração do presente em prejuízo dos antigos futuros de ouro); por outro lado, mergulhado num interminável banco de dados susceptível de actualização imediata e simultânea a partir de uma visível disseminação dos controlos (uma espécie de simulacro da ubiquidade que foi tão amada na infância do cinema).