domingo, 17 de julho de 2005

Mundos fechados da Lusitânia


Portugal é um país que se alimenta do fascínio pelos mundos fechados.
Salazar tinha o seu e ainda hoje vive de especulações e revelações (a filha que teve ou não teve, a governanta que era ou não era, as diplomacias, o relacionamento com os seus ministros, a paroquialidade da gestão doméstica, o medo das viagens, etc.).
Cunhal tinha o seu que hoje vive em estado de clímax, mobilizando voyeurs e estudiosos com as mais variadas origens (é o mistério da irmã, é a filha soviética ou russa, é o quotidiano parisiense, são as relações com o Kremlim, são as tramas da revolução portuguesa, é a morada fiscal, é o testamento, os livros, etc.).
A filosofia portuguesa também tem o seu mundo fechado e não passa de um ultrapassadíssimo manto de retalhos fechados sobre si próprios (embora haja universidades que, hoje em dia, em Portugal, lhe dedicam mestrados).
Fernando Pessoa, além da poesia, também tem o seu mundinho fechado (pretexto para o onanismo esotérico de múltiplos académicos em delírio e para outras crendices visionárias e recheadas de bolseiros).
Haverá muitos outros mundos fechados na craveira lusitana, mas estes - uns francamente actuais, outros menos e outros ainda um tanto mitológicos (como os dois últimos exemplificados) - já constituem uma boa amostra de algumas das fixações que andam aí à deriva. Tudo isto, numa era em que todos apostamos na Estratégia de Lisboa.