terça-feira, 10 de maio de 2005

Six feet Under

Charlotte e Luís, desculpem lá, mas eu também sou apaixonado pela causa.
Pergunto eu: não corresponderão os noventa dias que passaram em algumas horas para Brenda e Joe à súbita procura de sentido que move os restantes personagens?
O sangue aparece em casa da família como uma metáfora da errância dos destinos: David e Claire, cada um na sua cascata de expectativas, tentam recolocar-se no caos. Nate parte definitivamente (será?) para nova empresa. A quête, aliás muito aberta, generaliza-se. Só a mãe e o fleumático marido se mantêm esfíngicos, entre o indefinido pequeno-almoço e as páginas de um jornal sem qualquer história.
A série parece perseguir agora um desígnio que oscila entre o ainda-não e o ainda-nunca (Penélope e Godot), numa espécie de tempo que se dilata sem nunca atingir o seu limite.
No meio desta densíssima aurora boreal, Brenda sorri e inscreve alguma lógica de contrapeso, como se fosse uma divindade ao mesmo tempo exterior e íntima da grande cena.
E fá-lo à sua medida e à luz da sua própria e esclarecida decisão:

INT. BRENDA´S APARTMENT – LIVING ROOM CONTINUOUS (NIGHT 3)
As Brenda opens the door. Joe is just standing there, very casual about his total nakedness.

Brenda
Did anyone see you?

Joe
I hope so.