segunda-feira, 3 de janeiro de 2005

Relendo

Uma amiga viu o último romance de Lobo Antunes, em cima de uma mesa aqui em minha casa, e explicou a razão por que não o tinha comprado: demasiados espaços brancos e letras demasiado grandes (aquilo era espaço de vida a intometer-se no espaço do livro, aquilo era espaço de papel de merceeiro para tomar notas e não literatura, aquilo era um maço artificial para entreter compra e venda, aquilo era produto de marketing com formato ideal para tradução em capa dura sob o pretexto de romance). Engoli em seco, pensei, evoquei, sorri e acabei por decidir escrever este post, não fosse o diabo tecê-las (já agora, do dito livro, consegui ler 27 páginas, em três noites sucessivas, antes de me deitar. Imagens fortes, genialidade inventiva, mas cada vez mais uma certa modorra repetitiva e caótica de vozes e mais vozes sem esquadria e sem horizontes minimamente fixos; fica o vastíssimo prazer das imagens, fica o prazer da antecâmara da escrita, fica uma certa respiração da loucura).
E é assim, palavra a palavra, surpresa a surpresa, istmo a istmo, que um novo ano começa.