quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Em voz alta

Durante muito tempo resisti em dizê-lo. Até porque sei há séculos que amigos de amigos nem sempre espelham a coisa com objectividade, se é que um cheesecake desses existe. Mas o tempo acaba sempre por desenrolar a luva com que o mundo redescobre a sua forma possível, que não ideal. E é aí, nessa constatação óbvia, que a verdade fala por si, sem quaisquer tutelas, pressões ou submarinos em ziguezague. E por isso, agora o digo:
Gosto sinceramente do espasmo bem digerido, da frase polida e discreta, do contraste filigrânico a rastejar pelo humor e ainda do aroma citacional que não queima. Rara combinação de alfaias e sebes que fazem frase e sintaxe nua, despida, depurada, quase a vibrar no osso. É o que persigo ao longo do texto, esse caudal sem fim de página, que o João escreve e encaminha, muitas vezes sem que eu, leitor, dê excessiva importância ao que se alude por esgotar-se no próprio corredor do texto tal prazer. É assim na escrita blogosférica e na Folha também, menos o é no Expresso, mas aí talvez devido a algum náufrago que pesa na ostensiva divisão das orações em três partes. Mas tal não ensombra o brilho e sobretudo o deleite que faz gosto.
Tinha que dizê-lo. Já está.