domingo, 23 de janeiro de 2005

Dominações vs. ilusões - 3

E de repente a palavra "maremoto" invadiu com sofreguidão a nossa linguagem. Talvez seja genético: a necessidade de hiperbolizar cede imparavelmente à natureza da escolha. Entre tantas potencialidades e virtualidades, esta, a do "maremoto", passou de súbito a moda e, de certo modo, já virtualiza o discurso que nos envolve (até os nossos melhores cronistas já foram levados pela torrente).
O senso comum cresce assim: como um motor turbo que se alimenta do verosímil, do denunciado, do previsível, ou do simples encaixe criado pelos efeitos da rotina que não ousam ir patra além da própria rotina. E desta maneira singela, o que é montagem mimética e repetitiva torna-se na coisa mais natural e inquestionável do mundo. Um detalhe. Apenas isso. Mas é da repetição que nasce a liturgia. Toda a liturgia, toda a crença e, até certo ponto, toda a capacidade de iludir e induzir a convicção.