O paradoxo da controvérsia sã
Eu direi até mais, Américo. Quer-me parecer que o espaço blogosférico denota um paradoxo que o torna particularmente feliz para o desenrolar de polémicas. Sendo que, para tal, é essencial que os partners saibam o que é a civilidade e pratiquem sobretudo a abertura e a liberdade da sua expressão própria e não o anonimato ou o constrangimento de tipo tutelado. O paradoxo a que me refiro acaba por colocar em cena o silêncio, a retaguarda reflexiva e a possibilidade de alguma contenção emocional e, ao mesmo tempo, o imediatismo, o espírito de rascunho, o puro escorço e todos os pressupostos de uma reacção em cadeia. Neste campo de possíveis, a polémica tem condições para navegar num mar de horizontes largos, embora com a turbulência mínima e, já se sabe, acompanhada da inevitável prudência do marinheiro solitário. É por isso que discutir, aqui na blogosfera, pode ser um prazer. Não estamos curvados, unilateralmente, para um auditório mais ou menos fixo e previsível (como na imprensa escrita), não estamos expostos à massa e ao ruído disperso dos incautos (como na televisão), nem estamos a fervilhar na carne da emoção mais reactiva (como acontece nos debates ao vivo ou em tertúlia). Aqui respiramos com abertura democrática e participativa, quer o tempo da instantaneidade, quer o tempo da espera que o tabuleiro do jogo em rede nos permite. Aqui as nossas posições não se limitam à exposição que é própria das estátuas ou das esfinges. O texto blogosférico acaba sempre por tornar-se num tira-e-põe estimulante, ou, se se preferir, numa modelação que se vai definindo à medida que a polémica e o intertexto o vão esculpindo. Continuemos.