Empatias de um ocidental
Ó MacGuffin, sentes-te como eu me sentia durante a sobremesa e a farta sopa do banquete guterriano: “uma incómoda e perniciosa sensação de que tudo e todos estão à deriva. De que cada um navega o seu barco, sem carta e sem pingo de instrumentação. E nem um farol se vislumbra para, no mínimo, evitar o desastre”. O problema, pelo menos no Ocidente, é sempre esse: uma espécie de ansiedade escatológica, uma necessidade fundamental de traçar horizontes claros, uma inusitada vontade de alumiar luzinhas ao fundo do túnel, uma sensata predestinação para adivinhar algum sentido no lado mais extremo do olhar. Esse rigor, essa minúcia, esse tratadismo congénito faz-nos sentir spleen até ao fundo da alma. Faz-nos aparentados a um certo niilismo doce. Faz-nos a viver o desejo e o mal-estar mais puro em suma comunhão de bens. Não é assim?