Do acting-out mediático que nos gera
O tempo real implica a proximidade quase instantânea entre o evento e a sua virtualidade generativa. Quer isto dizer que o evento está lá, mas é, ao mesmo tempo, transposto ficcionalmente, como um duplo, para uma cadeia aparentemente integrada e sem fim. Esta propagação global de imagens aceleradas é, ela mesma, o próprio universo meta-real que simula governar-nos, do mesmo modo que, para os medievalistas platónicos, os universais precediam o real de acordo com a famosa fórmula, aqui referida há dias: universalia sunt ante res. O espectro do antigo Deus cruza-se, deste modo, com o locus ocupado, hoje em dia, pelo nosso - chamemos-lhe - ‘Existente F’, ou seja, por essa fissura espantosa que a instantaneidade tecnológica provocou para se tornar, perante a nossa ingenuidade massificada, numa espécie de fim em si mesma. Tudo isto se passou demasiado rapidamente, sem tempo para grandes acomodamentos, como se tivéssemos atravessado, sem dar por isso, uma ponte entre o sentido imanente da história e o sentido imanente da instantaneidade. (Desilusionismos).