Derrida (agora no deleite)
Era de um texto destes que eu estava à espera. O texto da moda. Fica bem. E eu também me rio, juro. Adoro praticar a galhofa que está na moda. Rio com ela e através dela. Afectos e nuvens rápidas. Mas confesso que, com os anos, também desenvolvi os sentidos do riso ao praticar as flexões e outros exercícios descritos por Derrida, até porque aquilo que ele andou a escrever não era uma teoria, nem uma tese, nem uma filosofia compreensiva. Era uma aula de ginástica. Fitness só para gente bem. Por mais anormal, carolíngio ou berbere que o homem tenha sido, caramba, pelo menos deu-nos a ver que as coisas (e os homens, mesmo se a dias) estão sempre em movimento e em postura incertos. É a realidade que é abananada e isso vê-se, não nos textos, mas no jogo dos dados ou nos salpicos das ondas. Devo dizer que não tinha ainda posto os olhos nas páginas de Derrida e já me ria de fantasmas. Dos meus, sobretudo, mas, também, dos fantasmas dos outros. Depois, percebi que esse tipo de atitude se encontrava no local preciso onde a liberdade e o abismo se encontram. Já nem sei onde é que essa visão marcou encontro comigo. Era uma Plaza cheia de sol e anunciava-se um espectáculo de circo para a hora do crepúsculo. Já foi há tanto tempo, de nada quase me lembro. Só sei que o, por mim estimadíssimo, Homem a Dias, às vezes, ao lado da sua verve interessante e sempre certeira, bem podia rir a sós ou na companhia de um dos seus fantasmas mais preferidos. Chamado Derrida. E uma tal operação deveria mesmo ter o sabor da hortelã-pimenta. É que me parece que esse fantasma é daqueles que lhe mordeu com força no pescoço. E porquê? talvez por medo da fotografia. Ou dos blogues. Quem sabe? mas o que interessa saber, hoje em dia? (embora esteja quase certo de que, se o bom Wittgenstein ou o óptimo Rorty tivessem morrido ontem, ou mesmo anteontem, esse tipo de moda-texto não teria sido escrito. Naturalmente correcto. Ou… não teria sido escrito dessa forma. Mas assim, deste modo in-ó-rico, a atirar para o cómico e para o “estilo celebridade” fica bem e até dá com a estação do ano. Folhas caídas, suavidades lentas, raízes a regenerarem a vida. Viva o Benfica, já agora).