quinta-feira, 9 de setembro de 2004

Assimetrias interessantes

Ao contrário do que possa parecer, a autonomia da ficcionalidade ainda não é tácita hoje em dia. No ocidente, desde Hume a Kant que a imaginação se foi tornando num caminho fudamental, inquiridor e postulador da era moderna, no seio da qual o revelado se torna, a pouco e pouco, num jogo aberto e plural entre ditames. Só que no, nosso mundo moderno, aqueles que vivem fechados em torno de um texto e de uma história única (religiosa ou ideológica, ainda os há e muitos - e com todo o direito que lhes assiste) podem dar-se ao luxo de intertextualizar ou parodiar (no sentido teórico-literário) qualquer outra narrativa, enquanto que aqueles que se recusam com naturalidade a viverem fechados no casulo de um texto e de uma história únicos já são mal vistos, se se derem a esse mesmíssimo direito. Como se a fé, a crença, ou a convicção não fossem, também elas, motivos repartidos, variados, abertos e caleidoscopicamente possíveis e cruzados! Que nome merece esta tão pouco simétrica e realista ilustração dos nossos dias, digam lá?