Ficcionalidades de prata – 49
(Woods Interior, Edward Steichen, 1898)
A fotografia age como uma super nova. Retém a matéria num mínimo de massa, encolhe o campo que serviu de curso à luz e adensa o que terá sido o quadro visual que esteve, por uma única vez, face à objectiva. Contudo, diante deste quase enigma da reprodutibilidade, existem outras realidades que a fotografia parece sempre transportar consigo: vectores que nos apontam para coisas (sítios, direcções, rostos), analogias que nos sugerem mundos reconhecíveis (aquela árvore, aquele bosque, aquele riacho) e memórias involuntárias que acompanham a impressão desde a sua origem (fotogenia, aura, estranhamento semelhante ao que descobrimos quando ouvimos a nossa voz num gravador). Para além desses atributos, há ainda um último que resiste à fixidez intangível da fotografia. Trata-se de uma espécie de caixa de silêncio que a acompanha ao longo do tempo e que se torna perceptível quando se escreve, não para explicar ou legendar a fotografia, mas para com ela e a partir dela emergir. Dialogar com a caixa de silêncio de uma fotografia é traduzi-la em várias frentes e encontrar, entre o ensaio e a poética literária, um caminho múltiplo que é, afinal, também, o da super nova fotográfica.