Ficcionalidades de prata - 17
(Menina com espelho, Clarence H. White, 1898)
Diz-se dos espelhos que são como os faunos no bosque: entram em nós como os imaginamos, escapam-se de nós quando com eles deliramos e traem-nos em sonhos se diante deles fraquejamos. Naquele dia, a janela abriu-se e o céu que cobria literalmente o bosque inscreveu-se por magia no assento da cadeira e no pequeno espelho que iluminou a face. Uma noite de faunos ao amanhecer faz da fotografia uma mântica para os devaneios. E é por isso que o corpo terá sido tão absorvido pela flauta que alumia, dia e noite, a densidade dos bosques. A face arrebatada, a casa amaldiçoada e a fulgência das sombras desfeita. Eis o que devolve à imagem aquilo que nela se fazia figura. Fauno em fuga, olhos de relance, aparências em lume.