quinta-feira, 29 de julho de 2004

O Passarinho

Ontem estive numa sessão fotográfica. Das profissionais. Encostei o braço a cubos brancos de diversas dimensões, apoiei a cabeça sem fazer força para não estriar, sentei-me de perna cruzada ou alonguei os membros em direcção a nada, tentei condensar algum sorriso no olhar, fitei a câmara num misto de impessoalidade e desejo de presença, recuperei vezes sem conta os modos, tiques e gestos que me eram pedidos, errei com os meus fantasmas sem saber bem onde colocar o corpo e desejei, a partir de certa altura, que aquilo acabasse e se esfumasse. Penso que o fotógrafo deve ter entendido isso.
Seja como for, jamais me consegui alhear do estigma da mesa de operações, do aparato cénico e negro a cercear os volumes do corpo e do aparelhamento de montagem e ainda das inúmeras poses que envolvem o resíduo de plateau. O meu amigo José M. Rodrigues já o dizia há anos e anos e tinha toda a razão: sou um péssimo modelo. Escuso de tentar fazer concorrência ao Bruno Rosendo, ao Daniel, ao Rodrigo Soares, ao Rui Debelo, ao João Pedro e ao Gonçalo Athias. E esqueça-se a Fiona, a Sofia Moutinho, a Tatiana, a Teresa Coimbra, a Ana Afonso, a Mariza Cruz, a Raquel Ribeiro, a Sofia Baessa, a Jô, a Telma Santos, a Erika, a Inês Pereira a Ana Rita e a Mariana Carvalho de contracenarem comigo!