domingo, 23 de maio de 2004

Perspectivas

Já lá vai o tempo em que se estudava e depois se iniciava uma carreira vitalícia a pensar na reforma. Hoje estuda-se e depois há que continuar sempre a estudar (formação permanente, adequações específicas de know-how, pós-graduações, reciclagens permanentes, etc.). Do mesmo modo, a curva demográfica, por si só, conduz ao reconhecimento objectivo de que a reforma é e será cada vez mais assunto de investimento e não objecto de pura passividade e espera tranquila. Gradativamente, a iniciativa irá ocupar o lugar oitocentista da reivindivação. Nos próximos anos, goste-se ou não, o carácter dinâmico dos empregos, a previsível volatilidade da segurança social e a importância do conhecimento (e das tecnologias) irão tornar-se no triângulo decisivo. De um lado a escassez dos recursos, do outro a arquitectura de um mundo radicalmente novo. Quer-me parecer que o nosso espectro político ainda se dispõe entre a relativa fuga para a frente e a espessa peneira diante do sol. Direitas e esquerdas a tentarem dominar o menino que sublima hoje os valores que pertencem a um mundo que já não existe; ei-lo a encontrar sentido para a vida no fluxo do consumo, na instantaneidade tecnológica, no narcisismo social e nas ficcionalidades televisivas ou on-line. Entre a inépcia das respostas e a indiferença generalizada, o rio que corre do outro lado da minha janela tem a pronunciada cor da invisibilidade.