terça-feira, 18 de maio de 2004

4 - Embuste: ondas e língua



Num texto algo protocolar, da autoria do Secretariado Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), eis como se explica a natureza conceptual da bandeira da lusofonia:

“Numa bandeira de 2 m por 1,40 m, a barra tem 5 cm, as letras da sigla têm 10 cm de altura e o logotipo tem 60 cm de diâmetro. A sigla dista 12 cm do logotipo e 21,5 cm da barra inferior do rectângulo. Em relação ao significado do logotipo, este tem uma razão de ser: Tendo o círculo como base geométrica, resolveu-se dividir em sete partes iguais, tantas quantos os países que formam a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Utilizou-se um elemento modular com forma de onda, tendo este a intenção de simbolicamente representar o mar que, antes da língua, foi o elemento primeiro que serviu ao estabelecimento dos laços que unem os países constituintes da Comunidade. No centro desta estrutura colocou-se um círculo concêntrico a esta, representando o elemento de união - a Língua.” ( Secretariado Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)

Um significado explicadinho e discernido à milésima, não vá o paternalismo destapar a perna e aceder ao reumático semiótico que dura subterraneamente há séculos. Para disfarçá-lo, surge este paradouro retórico muito light, tentanto de modo humilde sistematizar o óbvio: primeiro eram as ondas e depois veio a língua. Assim mesmo, sem mais intervalos ou cambiantes. Falta a terceira dimensão, aquela que, por solenidade, sucede ao surf e ao verbo. Deixo-a para o post de cima. Prepare-se o leitor, pois aí já se trata da maturidade democrática que é própria de todas as comunidades que se inserem (adverbialmente) na lusofonia.

(outros posts sobre o tema aqui, aqui, aqui e aqui)