quinta-feira, 1 de abril de 2004

Retomas



É uma daquelas palavras que desceu do céu e logo fez moda. Compreendo que determinadas profissões mais tecnicistas conduzam os seus a repetir até à exaustão certos jargões técnicos “incontornáveis”. Mas, no tempo volátil que corre, esses jargões massificam-se facilmente e inundam a boca da vastíssima plebe. E, de repente, é “retoma” para aqui e “retoma” para ali. É tudo e todos a discutir a retoma. Às vezes, eu pronuncio oitocentas e vinte e cinco vezes por dia este precioso jargão. E ainda por cima o pendor nasal e motorizado do palavrão (Vrrrumm) dá a súbita impressão de uma máquina a deslizar a todo o vapor tecnológico de um lado ao outro da testa. Retoma. Retoma forever. Sempre a crescer e a voar. I love retoma.
Agora veja-se: num único trimestre, o preço dos combustíveis subiu tanto quanto a inflação oficialmente prevista para o ano inteiro. Sem qualquer regulação que estipule preços máximos, não vislumbro onde é que os proféticos escorços de uma real retoma se irão arrolar. E esta? Retoma escondida com rabo de fora? Bichano. Carro (Vrrrumm) parado em posto da Galp de Badajoz a abastecer-se doutras retomas? (Bocadillo). Perpétua e desejada moda de crise? (Paixão). Ah! Como era bom poder dizer: I love retoma. A voar, a voar…