Acabei de ver a criação homónima do Rui Horta. A disputa dos fragmentos. Um jogo contínuo entre o homem e o cão como modo de superar as previsibilidades da comunicação entre pares. Um oceano que se descobre "out there", no momento em que o protagonista ultrapassa o delimitado espaço antes proposto para a cena. Um emaranhado discorrer acerca do fogo que pode arder através da liquidez (ou o modo como um pico de rosa arde na pele de um homem que, ao jeito de Rilke, entrevê na liquidez do sangue um modelo de narração envenenado). Ou ainda, o movimento assente numa ironia poética que vê na brusquidão uma força motriz. Mas uma força motriz sobretudo habitada pela avidez do gesto e pela súbita moldagem do corpo a uma urgência inapelável. Gosto deste discurso que não teme a arte do tosco e que sabe cruzar-se com a elegância e com um certo sarcasmo. Gosto de sentir que há algum mal estar na assistência e, ao mesmo tempo, um arrepio de beleza que não tem figura possível para se exprimir.
sábado, 7 de fevereiro de 2004
Ossos e Oceanos
Acabei de ver a criação homónima do Rui Horta. A disputa dos fragmentos. Um jogo contínuo entre o homem e o cão como modo de superar as previsibilidades da comunicação entre pares. Um oceano que se descobre "out there", no momento em que o protagonista ultrapassa o delimitado espaço antes proposto para a cena. Um emaranhado discorrer acerca do fogo que pode arder através da liquidez (ou o modo como um pico de rosa arde na pele de um homem que, ao jeito de Rilke, entrevê na liquidez do sangue um modelo de narração envenenado). Ou ainda, o movimento assente numa ironia poética que vê na brusquidão uma força motriz. Mas uma força motriz sobretudo habitada pela avidez do gesto e pela súbita moldagem do corpo a uma urgência inapelável. Gosto deste discurso que não teme a arte do tosco e que sabe cruzar-se com a elegância e com um certo sarcasmo. Gosto de sentir que há algum mal estar na assistência e, ao mesmo tempo, um arrepio de beleza que não tem figura possível para se exprimir.
Acabei de ver a criação homónima do Rui Horta. A disputa dos fragmentos. Um jogo contínuo entre o homem e o cão como modo de superar as previsibilidades da comunicação entre pares. Um oceano que se descobre "out there", no momento em que o protagonista ultrapassa o delimitado espaço antes proposto para a cena. Um emaranhado discorrer acerca do fogo que pode arder através da liquidez (ou o modo como um pico de rosa arde na pele de um homem que, ao jeito de Rilke, entrevê na liquidez do sangue um modelo de narração envenenado). Ou ainda, o movimento assente numa ironia poética que vê na brusquidão uma força motriz. Mas uma força motriz sobretudo habitada pela avidez do gesto e pela súbita moldagem do corpo a uma urgência inapelável. Gosto deste discurso que não teme a arte do tosco e que sabe cruzar-se com a elegância e com um certo sarcasmo. Gosto de sentir que há algum mal estar na assistência e, ao mesmo tempo, um arrepio de beleza que não tem figura possível para se exprimir.