sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

Cibersuspiro (ou a versão blogueadora do dia dos namorados)



Sempre que posso, leio e acompanho um determinado número de blogues. Alguns são certos, fidelizados, outros nem tanto. Mas há uma constante nessas visitas que se traduz pela intimidade com que o meu olhar reconhece o olhar de quem está do outro lado. Ainda que involuntariamente, cada vez me sinto mais a ler o “quem” do que “o quê” dos blogues, o que não acontece, por exemplo, nos livros (onde o enunciado se sobrepõe com mais força, pelo menos aparentemente, à enunciação). E isto embora o “quem” dos blogues seja fantasioso e não rigorosamente pessoal. Seja como for, a verdade é que, quando entro num desses blogues que mais visito, parece que já conheço tudo: o fluxo singular da escrita, os silêncios prolongados, o que fica por dizer, os humores em suspenso, o sorriso do texto, as fixações, o entusiasmo escondido, a palavra certa, o recorte da sintaxe, as pequenas raivas, as esperas melancólicas, o desejo secreto, uma ou outra tara, os desaires, as paixões, tudo. E ao voltar a ler, no dia a dia, esses mesmos blogues mais visitados, sejam eles quais forem, parece que o meu olhar já está de tal modo fundido com o olhar do outro lado da rede que chego a sentir uma empatia que disputa a imaterialidade de qualquer cibersuspiro. Há certas pulsões humanas que se colam ao imediatismo rizomático da rede de um modo que escapa totalmente às páginas de papel dos livros (embora nestes existam auras de confidência doutra natureza que também dialogam connosco). Não vos acontece isso?