quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

Íntimos

A circular no interior das páginas. A desmembrar a liquidez de uma palavra que não chegou a vir ao ser. A esquecer o rumo. A adivinhar o som. A calcorrear o ritmo.
Viro mais uma página e o fantasma descobre o movimento, a teia, o tear, a sombra e o limo preso ao andamento que faz da leitura uma translação sem horizonte. Apenas breu e alguns holofotes a definirem o langor com que as nuvens cobrem este silêncio que faz do livro na minha mão uma verdadeira trégua solar.
A circular no interior das páginas. É assim a voz que vem de longe. De muito longe. E eu chegado agora mesmo a casa, chegado ao lume, chegado às letras inimagínáveis.
E a ventoinha parada, enquanto não é Verão. Sorrio e volto ao livro. Aos Escritos Íntimos de Baudelaire.