domingo, 25 de janeiro de 2004

Indígenas anunciados

Nunca gostei de me deixar arrastar por fórmulas que fazem moda fácil em certas circunstâncias e que depois falam massificadamente através da própria “pele da cultura” (Derrick de Kerckhove). É por isso que algumas expressões me cheiram sempre a uma espécie de enxofre palavroso, ou a alface pacóvia, ou ainda a sardinhada mediática. São elas, por exemplo, “janela de oportunidade”, “é suposto”, “em termos de”, para não falar já dos “gramas” (falo da medida de peso) soletrados e escritos no feminino. Abrimos o jornal, ouvimos os debates, fechamos a rádio ou abrimos a televisão e lá está o coro dos indígenas bem afinados a soletrar estas parangonas. Hoje em dia, o papel dos dicionários é afinal registá-las. A pouco e pouco. Contra a minha vontade. Acho que é nestas pequenas coisas (serão mesmo pequenas?) que a morte se vai tornando nossa vizinha bem comportada. Oxalá tal ideia nem me tivesse passado pela cabeça!