segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

Feher - 2

Por mensagens recebidas, já entendi que continua viva aquela ideia de que fica mal os "chamados intelectuais" (detesto o termo!) vibrarem ou interessarem-se por futebol. Eu sempre gostei muito e sempre acompanhei e apoiei o Benfica (sou mesmo sócio). Era e é uma questão de família, era e é uma questão de paixão pessoal que ocupa um certo lugar na vida. Quando falo de família, falo em dois níveis (no meu caso). Por um lado, da família real, toda ela herdeira dos mesmos sentimentos clubísticos e, por outro lado, da chamada família abstracta que une, de forma algo mágica, todos os que partilham a mesma mística benfiquista ainda que não se conheçam pessoal e intimamente (mas é curiosíssimo o entendimento cúmplice e a abertura radical que pode sentir-se com quem se senta ao nosso lado no estádio durante hora e meia de jogo). Ontem, senti uma amputação súbita e uma profundíssima perturbação. Precisamente porque esta segunda família foi atingida de modo trágico e de um modo excessivamente directo. Confessei-o e disse-o. C´est tout.
O blogue é também este exercício de revelação confessional, ou melhor, por outras palavras, este exercício de fusão entre a expressão diária do que é geral e abstracto (relativo ao espaço público) e aquilo que irradia de um foro pessoal e insubstituível (relativo ao espaço expressivo de cariz individualizado). O actual tempo da rede é o tempo desta fusão e distancia-se francamente da arqueologia patológica que ainda insiste em não compreender que é ilusório o divórcio entre o público e o privado ou entre o futebol e a reflexão (intelectual).