sábado, 17 de janeiro de 2004

Cometa

As cortinas abriram-se e eu vi ao longe uma luz a descer no horizonte. Um fio a crescer para fora de si e a invadir o olhar incandescente com se fosse a vela de um barco quase a aportar na grande estrela ausente. É assim a noite, de facto: um cometa a navegar sobre o seu próprio movimento e a tactear com rapidez o encanto do que não está. Estará amanhã, outra vez. É nessa esperança, e só nela, que os cactos ao fundo do quintal adormecem. Sem esquecerem a bruma que cobre o limite do muro e o confunde com a água calma que se suspende no estendal. Para tudo eu olho, em silêncio, à espera da tal luz e do imenso olhar em fogo que a perseguiria até ao limiar do desejo.