terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Polémica sobre o modo de encarar a TV (Sloterdijk, episódio 2) / Actualizado



A provocatória mas interessante teoria de P. Sloterdijk já começou a ter reacções.
Deixamos aqui quatro que chegaram à caixa de correio do Miniscente.
Diz Pedro N do Ruminações Digitais:

Concordo com aquela tira do Calvin onde ele se pergunta se Marx tinha razão quando afirmou que a religião é o ópio do povo e a TV, em jeito de resposta, pensa: "Marx ainda não tinha visto nada". Nesse sentido, não creio que ela
seja igual ligada ou desligada. É um meio extremamente poderoso de comunicação das massas, que infelizmente reflecte-se (e faz-se reflectir) demasiado nas mesmas. Em relação à tranquilidade o comentário é capaz de ter razão... mas é uma tranquilidade demasiado parecida a um calmante para o meu gosto (não
meditação mas esquecimento).


Por sua vez, Mário Filipe Pires do Retorta afirma:

Caro Luis, eu encaro-a de modo um pouco diferente (visão dinossáurica a carregar......). Reduzir a tv à mera produção de imagens aparentemente desprovidas de significado, utilizadas sómente como bálsamo cerebral, apaziguador de transmissões neuronais demasiado perturbadoras, é querer negar a utilidade educativa do meio. Sei que falar das capacidades educativas da televisão pode fazer sorrir alguns e rebolar de riso outros, mas apesar de todos os usos soporíferos que a televisão evidencia, e que constituem 99,9% da programação comercial actual, ela também pode contribuir e muito para difundir visões não conformistas da sociedade.

Do Brasil, a Ângela do blogue Palavras Cruzadas - Histórias da Índia Ursa Sentada, manifesta a seguinte opinião:

Concordo que, muitas vezes, os fatos na TV são transformados apenas em imagens, perdendo seu aspecto de acontecimentos concretos. Exatamente porque a TV mistura a realidade com a fantasia. Por isso, a TV já foi diversas vezes considerada uma forma de alienação. A pessoa que assiste pode ignorar ou alterar o significado das imagens transmitidas a seu gosto. Mesmo as notícias sofrem a roupagem da mídia e podem ser recebidas de formas variadas pelo espectador. Mas essa "liberdade" da pessoa que assiste também pode representar uma espécie de aprisionamento na ilusão.

Por fim, Manuel Cabeça do blogue Crónicas do Deserto, enviou o seguinte texto:

Em resultado do desafio do Luís, apresento (alguma) vantagem em relação àqueles que já o comentaram e aceitaram. A pergunta é provocadora e, numa primeira instância, levar-nos-ia a concordar, a aceitar o carácter pretensamente "redentor", simples, da imagem.
Quando muitas vezes afirmamos, algo convencidos da nossa certeza, que uma imagem vale mais que mil palavras. Mas provocar é bonito, pensar é-o ainda mais.
Tenho que admitir que, em alguns pormenores, a televisão é o mediador entre a minha pessoa e o mundo. É ela que me traz o movimento das imagens, o som das palavras e, por vezes, a cor dos sentimentos. É também ela que me indica posições, ajuda a construir uma opinião. Mas é também ela que induz a confundir opinião pública com a opinião visionada, confunde, propositadamente (?), a árvore com a floresta. Me encanta e engana. Como afirma o Mário Filipe "ela também pode contribuir e muito para difundir visões não conformistas da sociedade".
Provavelmente estaremos a valorizar o objecto em detrimento do sujeito e, nesta perspectiva, há que recentrar a questão, atribuir o lugar preponderante ao sujeito e questionar sobre o que pretendemos da televisão, o que queremos ela seja e transmita, qual o seu contributo na formação de uma opinião crítica ou no embaraço da ignorância?
Fiquemos-nos por aqui e aguardemos por outros desenvolvimentos


Continuaremos à espera de mais reacções.