terça-feira, 2 de dezembro de 2003

A luz da noite

No hemisfério da noite, tudo precede do caos. É por essa razão que a noite mitológica se terá deixado um dia envolver pelo seu irmão, Érebo, tendo-se assim tornado na mãe de Éter e de Hemera (i.e., do ar e da luz). Mas a noite acabou também por ser a mãe de muitos outros seres menos recomendáveis, todos eles habitantes de uma região chamada Hespéria que se dizia situada para além do Estreito de Gibraltar (na perspectiva do Mediterrâneo centro-oriental, claro). Curiosamente, este Ocidente que sempre se sonhou por trás das Colunas de Hércules, aparece na língua árabe traduzida pelo conceito de Gharb (o local onde o sol se põe). Ou não fosse a noite mitológica da margem norte do Mediterrâneo, entre outros atributos, a mãe da própria luz. Fica por explicar se a Atlântida que é revista em textos Platónicos - e que se situa no mesmo Extremo-Ocidente, embora já para além do Mare Nostrum - ainda pertence ao mundo apolíneo, ou se é irremediável parte do tártaro profundo, sombrio e esquecido.