terça-feira, 23 de dezembro de 2003

Inverno, dia 1

Põe-se o sol. No limiar do horizonte a vista transforma-se num magma aceso. Depois escurece e a noite anuncia-se através da uma nova densidade. No vidro da janela reaparece a humidade, essa linguagem filigrânica que diz o coração da água em silêncio. É nestas alturas que a espera se torna presença. E o que é agora actual passa a ocupar o espaço passado e um certo porvir talvez idealizado. Deste modo discreto, quase que passamos despercebidamente sob o zénite do solstício. Como se navegássemos lentamente sob a veneziana ponte dos suspiros. Saudemo-los. Estou longe do quotidiano e deixo-me inebriar pelas imagens que rasgam a terra. Até porque amanhã o sortilégio da vida voltará a celebrar outra vez a luz.